sexta-feira, 21 de maio de 2010

NOMES PRÓPRIOS

TRABALHO PEDAGÓGICO COM NOMES PRÓPRIOS

Rosa Maria Antunes de Barros

O conhecimento do próprio nome tem duas consequências importantes para os alunos que estão se alfabetizando:
• é uma escrita livre de contexto;
• é uma escrita que informa sobre a ordem não-aleatória dentro do conjunto de letras.

A escrita do próprio nome representa uma oportunidade privilegiada de reflexão sobre o funcionamento do sistema de escrita, pelas seguintes razões:
• tanto do ponto de vista lingüístico como do gráfico, o nome próprio é um modelo estável;
• o nome próprio é um nome que se refere a um único objeto, com o que se elimina, para a criança, a ambigüidade na interpretação;
• o nome próprio tem valor de verdade porque se reporta a uma existência, a um saber compartilhado por ambos, emissor e receptor;
• do ponto de vista da função, fica claro que identificar objetos ou indivíduos com nomes faz parte dos intercâmbios sociais da nossa cultura;
• do ponto de vista da estrutura daquilo que está escrito, a pauta lingüística e o referente coincidem.

A escrita de nomes próprios é uma boa situação para trabalhar com modelos de escrita, e isso é conveniente porque esse tipo de modelo oferece informação à criança sobre:
• a forma e o valor sonoro convencional das letras;
• a quantidade de letras necessária para escrever os nomes;
• a variedade, a posição e a ordem das letras em uma escrita convencional;
• a realidade convencional da escrita, o que serve de referência para checar as próprias hipóteses.

Algumas atividades

No que se refere ao trabalho pedagógico, têm se mostrado produtivas as situações em que as crianças precisem:
• Consultar listas de nomes ou apelidos.
• Reconhecer a escrita dos nomes dos colegas.
• Identificar diferentes segmentos constituintes dos nomes (sílabas, fonemas/letras), fazendo uso desse conhecimento em outras situações.
• Identificar, em fichas ou cartões, o próprio nome, o dos colegas ou outros.
•Usar/ver a utilização de nomes para marcar desenhos, objetos, utensílios, roupas, trabalhos de classe.
•Copiar nomes em situações em que isso é necessário e/ou faz sentido.
•Montar um nome com letras fornecidas pela professora, em número exato e sem modelo.
•Escrever nomes com letras móveis, sem modelo, selecionando-as dentre um conjunto de letras.
•Escrever o nome do colega nos trabalhos feitos por ele.
•Organizar agenda telefônica, estabelecendo correspondência entre os nomes e os respectivos números de telefone.
•Participar de jogos dos seguintes tipos:
            -“forca” com nomes;
            - jogo da memória (relacionando fotos e nomes);
            -bingo de nomes; adivinhações, como por exemplo: “Tenho um cartão com um nome de seis letras, que começa com a primeira letra do nome do Fábio. Qual é?”.
•Participar de outras situações desafiadoras, tais como:
            -A professora coloca na mesa as letras dos nomes de quatro alunos: cada um deve encontrar as que pertencem ao seu próprio nome e, depois, com o grupo, procurar quais são coincidentes com as dos outros nomes.
            - Descoberta dos nomes que vão sendo escritos na lousa pela professora, a partir das orientações que ela oferece: “Primeiro o S, depois o A… De quem será este nome?” (entre outras possibilidades).
            - Utilização de cartões com o nome dos personagens das histórias lidas, misturados a outros com os nomes das crianças, para classificar e analisar, por exemplo:
             *quais são os nomes que começam como o de Branca de Neve;
             *quais os que têm mais letras que o nome do Pinóquio;
             *quais são escritos como o de Chapeuzinho Vermelho.


Nomes próprios


Bloco de Conteúdo: Língua Portuguesa

Conteúdo: Produção de Textos

Conteúdo: Leitura e escrita de nomes próprios

Ano: Educação Infantil, 1º e 2º anos

Tempo estimado: Um mês

Introdução: Por que trabalhar com os nomes próprios? As crianças que estão se alfabetizando podem e devem aprender muitas coisas a partir de um trabalho intencional com os nomes próprios da classe.

Objetivos: Estas atividades permitem aos alunos as seguintes aprendizagens:

• Diferenciar letras e desenhos;

• Diferenciar letras e números;

• Diferenciar letras, umas das outras;

• A quantidade de letras usadas para escrever cada nome;

• Função da escrita dos nomes: para marcar trabalhos, identificar materiais, registrar a presença na sala de aula (função de memória da escrita) etc;

• Orientação da escrita: da esquerda para a direita;

• Que se escreve para resolver alguns problemas práticos;

• O nome das letras;

• Um amplo repertório de letras (a diversidade e a quantidade de nomes numa mesma sala);

• Habilidades grafo-motoras;

• Uma fonte de consulta para escrever outras palavras.

O nome próprio tem uma característica: é fixo, sempre igual. Uma vez aprendido, mesmo o aluno com hipóteses não alfabéticas sobre a escrita não escreve seu próprio nome segundo suas suposições, mas, sim, respeitando as restrições do modelo apresentado. As atividades com os nomes próprios devem ser sequenciadas para que possibilitem as aprendizagens mencionadas acima. Uma proposta significativa de alfabetização, aquela que visa formar leitores e escritores, e não mero decifradores do sistema, não pode pensar em atividades para nível 1, nível 2, nível 3...

É preciso considerar:

• Os conhecimentos prévios dos alunos.

• O grau de habilidade no uso do sistema alfabético.

• As características concretas do grupo.

• As diferenças individuais.

Sequência de atividades

1. Selecione situações em que se faz necessário escrever e ler nomes. Alguns exemplos: Escrever o nome de colegas para identificar papéis, cadernos, desenhos (pedir que os alunos distribuam tentando ler os nomes). Lista de chamada da classe. Ler cartões com nomes para saber em que lugar cada um deve sentar; para saber, quem são os ajudantes do dia, etc.

2. Peça a leitura e interpretação de nomes escritos.

3. Prepare oralmente a escrita: discuta com as crianças, se necessário, qual o nome a ser escrito dependendo da situação. Se for para identificar material do aluno, use etiquetas; para lista de chamada use papel sulfite ou papel craft.

4. Seja bem claro nas recomendações: explicite o que deverá ser escrito, onde fazê-lo e como, que tipo de letra usar, etc

5. Peça a escrita dos nomes: com e sem modelo.

Objetivos

Ao final das atividades, o aluno deve:

Reconhecer as situações onde faz sentido utilizar nomes próprios: para etiquetar materiais, identificar pertences, registrar a presença em sala de aula (chamada), organizar listas de trabalho e brincadeiras, etc.

Identificar a escrita do próprio nome.

Escrever com e sem modelo o próprio nome.

Ampliar o repertório de conhecimento de letras.

Interpretar as escritas dos nomes dos colegas da turma.

Utilizar o conhecimento sobre o próprio nome e o alheio para resolver outros problemas de escrita, tais como: quantas letras usar, quais letras, ordem da letras etc e interpretação de escritas.

Recursos didáticos

• Folhas de papel sulfite com os nomes das crianças da classe impressos

• Etiquetas de cartolina de 10cm x 6cm (para os crachás)

• Folhas de papel craft, cartolina ou sulfite A3

Organização da sala

Cada tipo de atividade exige uma determinada organização:

Atividades de identificação das situações de uso dos nomes: trabalho com a sala toda.

Identificação do próprio nome: individual.

Identificação de outros nomes: sala toda ou pequenos grupos.

Desenvolvimento da atividade

Identificação de situações onde se faz necessário escrever e ler nomes. Aproveite todas as situações para problematizar a necessidade de escrever nomes.

Situação 1- Recolhendo material. Questione os alunos como se pode fazer para que se saiba a quem pertence cada material. Ouça as sugestões. Distribua etiquetas para os alunos e peça que cada um escreva seu nome na sua presença. Chame atenção para as letras usadas, a direção da escrita, a quantidade de letras, etc.

Situação 2 - Construindo um crachá Questione os alunos como os professores podem fazer para saber o nome de todos os alunos nos primeiros dias de aula. Ajude-os a concluir sobre a função do uso de crachás. Distribua cartões com a escrita do nome de cada um que deverá ser copiado nos crachás. Priorize neste momento a escrita com a letra de imprensa maiúscula (mais fácil de reprodução pelo aluno). Solicite o uso do crachá diariamente.

Situação 3 - Fazendo a chamada Lance para a classe o problema: como podemos fazer para não esquecer quem falta na aula?

Observações: todas essas situações e outras têm como objetivo que os alunos recorram à escrita dos nomes como solução para problemas práticos do cotidiano.

Identificação do próprio nome

Dê para cada aluno um cartão com o nome do aluno.

• Apresente uma lista com todos os nomes da classe. Escreva todos os nomes com letra de imprensa maiúscula. Nesse tipo de escrita, é mais fácil para o aluno identificar os limites da letra, o que também deixa a grafia menos complicada.

• Peça que localizem na lista da sala o próprio nome. O cartaz com essa lista pode ser grande e ser fixado em local visível.

• Peça para cada um montar o próprio nome, usando letras móveis (que podem ser adquiridas ou confeccionadas).

• Inicialmente realize esta atividade a partir de um modelo (crachá com o nome) e depois sem modelo, usando o modelo para conferir a escrita produzida. Identificação de outros nomes da classe

Apresente uma lista com os nomes das crianças da classe.

Cada aluno poderá receber uma lista impressa ou colocar na classe uma lista grande confeccionada em papel craft. Você poderá, também, usar as duas listas: as individuais e a coletiva.

Atividade 1- Ditado - Dite um nome da lista. Cada aluno deverá encontrá-lo na lista que tem em mãos e circulá-lo. Em seguida, peça a um aluno que escreva aquele nome na lousa. Peça aos alunos que confiram se circularam o nome certo. Para que essa atividade seja possível a todos é importante fornecer algumas ajudas. Diga a letra inicial e final, por exemplo.

Atividade 2 - Fazendo a chamada - Entregue a lista de chamada dos alunos da sala. Peça que as crianças digam os nomes dos alunos ausentes e que circulem esses nomes. Siga as mesmas orientações da atividade 1, no tocante às ajudas necessárias para a realização da tarefa.

Atividade 3 - Separando nomes de meninas e meninos - Apresente a lista da chamada da classe. Peça para os alunos separarem em duas colunas: nomes das meninas e nomes dos meninos.

Observação: em todas estas atividades é importante chamar a atenção para a ordem alfabética utilizada nas listas. Este conhecimento: nomeação das letras do alfabeto é importante para ajudar o aluno a buscar a letra que necessita para escrever. Em geral as crianças chegam à escola sabendo "dizer" o alfabeto, ainda que não associando o nome da letra aos seus traçados. Aproveite esse conhecimento para que possam fazer a relação entre o nome da letra e o respectivo traçado.

Avaliação

É importante observar e registrar os avanços dos alunos na aquisição do próprio nome e no reconhecimento dos outros nomes. Tratando-se de uma informação social - a escrita dos nomes -, é preciso observar se os alunos fazem uso dessa informação para escrever outras palavras. A escrita dos nomes é uma informação social, porque é uma aprendizagem não escolar. Dependendo da classe social de origem do aluno, ele já entra na escola com este conhecimento: como se escreve o próprio nome e quais as situações sociais em que se usa a escrita do nome. Para alunos que não tiveram acesso a essa informação a escola deve cumprir esse papel.

Sugerimos uma planilha de observação de nove colunas, contendo os seguintes campos:

1. Nome do aluno

2. Escreve sem modelo?

3. Usa grafias convencionais?

4. Utiliza a ordem das letras?

5. Conhece os nomes das letras?

6. Reconhece outros nomes da classe?

7. Escreve outros nomes sem modelo?

8. Utiliza as letras convencionais na escrita dos nomes?

9. Utiliza o conhecimento sobre os nomes para escrever outras palavras?

Observação: A partir do registro na planilha acima é possível ter uma visão das necessidades de investimento com cada aluno e também das necessidades coletivas de trabalho com a classe.

Atividades complementares

• Pesquisa sobre a origem do nome (pesquisa com os familiares)

• Análise de fotos antigas e atuais da criança.

• Montagem de uma linha do tempo do aluno a partir das fotos trazidas.

Quer saber mais?

BIBLIOGRAFIA
Tolchinsky, Liliana. 1998 . Aprendizagem da Linguagem escrita. Editora Ática.
Teberosky, Ana. 1994. Aprendendo e escrever. Editora Ática. 1990. Psicopedagogia da Linguagem escrita. Editora Unicamp 1990. Reflexões sobre o ensino da leitura e da escrita.Editora Unicamp.
Ferreiro, E & Teberosky A. 1984. Psicogênese da língua escrita. Artes Médicas.
Curto, L&Morilllo, M&Teixidó, M -Escrever e ler - volumes 1 e 2. Artes Médicas.
Consultoria: Suzana Mesquita Moreira
Professora, coordenadora pedagógica e formadora de professores

Nenhum comentário:

Postar um comentário