terça-feira, 22 de março de 2011

O desenho infantil


O desenvolvimento progressivo do desenho implica mudanças significativas que, no início, dizem respeito à passagem de rabiscos iniciais da garatuja para construções mais ordenadas, fazendo surgir os primeiros símbolos. Imagens de sol, figuras humanas, animais, vegetação e carros entre outros, são freqüentes nos desenhos das crianças, reportando mais assimilações dentro da linguagem do desenho.

Observando desenhos de crianças nota-se que quando estas têm idades correspondentes seus desenhos têm características semelhantes. Essas características comuns sofrem uma evolução: o conhecimento das etapas evolutivas do desenho fornece ao professor mais um instrumento para compreender as crianças.

• De 1 a 3 anos

É a idade das famosas garatujas: simples riscos ainda desprovidos de controle motor, a criança ignora os limites do papel e mexa todo o corpo para desenhar, avançando os traçados pelas paredes e chão. As primeiras garatujas são linhas longitudinais que, com o tempo, vão se tornando circulares e, por fim, se fecham em formas independentes, que ficam soltas na página. No final dessa fase, é possível que surjam os primeiros indícios de figuras humanas, como cabeças com olhos.

• De 3 a 4 anos

Já conquistou a forma e seus desenhos têm a intenção de reproduzir algo. Ela também respeita melhor os limites do papel. Mas o grande salto é ser capaz de desenhar um ser humano reconhecível, com pernas, braços, pescoço e tronco.

• De 4 a 5 anos

É uma fase de temas clássicos do desenho infantil, como paisagens, casinhas, flores, super-heróis, veículos e animais, varia no uso das cores, buscando um certo realismo. Suas figuras humanas já dispõem de novos detalhes, como cabelos, pés e mãos, e a distribuição dos desenhos no papel obedecem a uma certa lógica, do tipo céu no alto da folha. Aparece ainda a tendência à antropomorfização, ou seja, a emprestar características humanas a elementos da natureza, como o famoso sol com olhos e boca. Esta tendência deve se estender até 7 ou 8 anos.

• De 5 a 6 anos
 
Os desenhos sempre se baseiam em roteiros com começo, meio e fim. As figuras humanas aparecem vestidas e a criança dá grande atenção a detalhes como as cores. Os temas variam e o fato de não terem nada a ver com a vida dela são um indício de desprendimento e capacidade de contar histórias sobre o mundo.

Para Piaget a criança desenha menos o que vê e mais o que sabe. Ao desenhar ela elabora conceitualmente objetos e eventos. Daí a importância de se estudar o processo de construção do desenho junto ao enunciado verbal que nos é dado pelo indivíduo.
 
“O desenho é precedido pela garatuja, fase inicial do grafismo. Semelhantemente ao brincar, se caracteriza inicialmente pelo exercício da ação. O desenho passa a ser conceituado como tal a partir do reconhecimento pela criança de um objeto no traçado que realizou. Nessa fase inicial, predomina no desenho a assimilação, isto é, o objeto é modificado em função da significação que lhe é atribuída, de forma semelhante ao que ocorre com o brinquedo simbólico.”

Fases do desenho segundo Piaget:

Garatuja: Faz parte da fase sensório motora ( 0 a 2 anos) e parte da fase pré-operacional (2 a 7 anos). A criança demonstra extremo prazer nesta fase. A figura humana é inexistente ou pode aparecer da maneira imaginária. A cor tem um papel secundário, aparecendo o interesse pelo contraste, mas não há intenção consciente. Pode ser dividida em:

Desordenada: movimentos amplos e desordenados. Ainda é um exercício. Não há preocupação com a preservação dos traços, sendo cobertos com novos rabiscos várias vezes. Com relação a expressão, vemos a imitação "eu imito, porém não represento".

Ordenada: movimentos longitudinais e circulares; coordenação viso-motora. Figura humana de forma imaginária, exploração do traçado; interesse pelas formas.

Nessa fase a criança diz o que vai desenhar, mas não existe relação fixa entre o objeto e sua representação. Por isso ela pode dizer que uma linha é uma árvore, e antes de terminar o desenho, dizer que é um cachorro correndo.

A expressão é o jogo simbólico: "eu represento sozinho". O símbolo já existe. Identificada: mudança de movimentos; formas irreconhecíveis com significado; atribuem nomes, conta histórias. A figura humana pode aparecer de maneira imaginária, aparecem sóis, radiais e mandalas. A expressão também é o jogo simbólico.

Pré- Esquematismo: Dentro da fase pré-operatória, aparece a descoberta da relação entre desenho, pensamento e realidade. Quanto ao espaço, os desenhos são dispersos inicialmente, não relaciona entre si. Então aparecem as primeiras relações espaciais, surgindo devido à vínculos emocionais. A figura humana torna-se uma procura de um conceito que depende do seu conhecimento ativo, inicia a mudança de símbolos. Quanto à utilização das cores, pode usar, mas não há relação ainda com a realidade, dependerá do interesse emocional. Dentro da expressão, o jogo simbólico aparece como: "nós representamos juntos".

Esquematismo: fase das operações concretas (7 a 10 anos). Esquemas representativos começam a construir formas diferenciadas para cada categoria de objeto, por exemplo, descobre que pode fazer um pássaro com a leta "V". Uso da linha de base e descoberta da relação cor objeto. Já tem um conceito definido quanto à figura humana, porém aparecem desvios do esquema como: exagero, negligência, omissão ou mudança de símbolo. Aparecem fenômenos como a transparência e o rebatimento, podendo haver um desvio do esquema de cor expressa por experiência emocional. Aparece na expressão o jogo simbólico coletivo ou jogo dramático e a regra.

Realismo: final das operações concretas. Consciência maior do sexo e autocrítica pronunciada. No espaço é descoberto o plano e a superposição. Abandona a linha de base. As formas geométricas aparecem. Maior rigidez e formalismo. Acentuação das roupas diferenciando os sexos.

O realismo a marca esta fase, onde surge também a noção de perspectiva. Ou seja, os desenhos da criança já dão uma impressão de profundidade e distância. Extremamente exigentes muitas deixam de desenhar, se acham que seus trabalhos não ficam bonitos.

Pseudo Naturalismo: fase das operações abstratas (10 anos em diante).É o fim da arte como atividade espontânea. Inicia a investigação de sua própria personalidade.
Características: realismo, objetividade, profundidade, espaço subjetivo, uso consciente da cor.
 
Na Embora se possa observar claramente uma evolutiva do desenho infantil, não se pode determinar precisamente as idades nas quais cada criança fará uma garatuja, um pré-esquema, ou um diagrama. As variações são muito grandes de criança para criança: o que se mantém é a ordem de sucessão de etapas.

Fonte: Descoberta de um universo: a evolução do desenho infantil, de Thereza Bordoni
PIAGET, J. A formação dos símbolos na Infância. PUF, 1948

REFERENCIAL CURRICULAR NACIONAL PARA A EDUCAÇÃO INFANTIL. Ministério da Educação e do Desporto, secretaria de Educação Fundamental. Brasília: MEC/SEF, 1998. 3v.

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